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16 Jul
VIOLENCIA ELEITORAL AUMENTA POR CAUSA DE FANATISMO POLITICO


Aproximação do período eleitoral eleva violência política; casos crescem 117%

Pesquisador da Unirio diz que tem sido observado aumento da violência em anos eleitorais, sem sinais de redução. De 2019 até hoje, Observatório verificou mais de dois mil casos

A aproximação das eleições municipais deste ano pode ter contribuído para o aumento de 117% nos casos de violência política verificados entre abril e junho em relação ao trimestre anterior. No período, houve 128 registros de ocorrências contra lideranças políticas, dos quais  17,2% foram homicídios..

 Daquele ano até hoje, foram 2.113 casos.“Temos observado uma consistência no aumento da violência em anos eleitorais, que são anos mais violentos. 

E temos percebido a manutenção de um cenário de violência, sem sinais de redução”,  o coordenador do Observatório, Miguel Carnevale. Ele acrescenta que as eleições não são a causa da violência, “mas funcionam como o último estalo para um acirramento que eventualmente já existia antes do período eleitoral chegar”. 

No que diz respeito aos tipos de violência, as ameaças permanecem como a categoria mais recorrente. No trimestre em foco, o Observatório identificou 47 casos, o que corresponde a 36,7% do total. Em seguida, aparecem as agressões, com 42 ocorrências (32,8%), 22 homicídios (17,2%), 11 atentados (8,6%), três homicídios de familiares (2,3%) e três sequestros (2,3%). Considerando o recorte regional, o Sudeste vem sendo a regiã

o mais atingida, com 47 registros (36,7%), seguido do Nordeste com 46 (35,9%), Centro-Oeste com 13 (10,2%), e o Norte e o Sul com 11 cada (8,6% cada)

Segundo o relatório, ao todo foram identificados episódios de violência em 23 estados, sendo São Paulo o mais atingido, com 21 (16,4%). Em segundo lugar estão a Bahia e o Rio de Janeiro, ambos com 15 casos cada (11,7% cada).Além disso, o Observatório aponta que os homicídios, de lideranças e familiares ocorreram em 12 estados. 

“O Rio de Janeiro chama atenção com seis casos (24%). Um deles foi o assassinato de uma pré-candidata a vereadora no município de Nova Iguaçu (RJ). Juliana Lira de Souza Silva, conhecida como ‘Nega Juh’, foi baleada junto ao seu filho na cidade”.

 De acordo com o relatório, os vereadores lideram como os mais vitimados, respondendo por 51 casos (39,8%). Depois, foram verificados casos envolvendo nove funcionários de administração municipal (7%), nove prefeitos (7%) e três vice-prefeitos (2,3%). Juntas, essas categorias compreendem 56,3% de todos os episódios violentos computados no trimestre. “

É importante mencionar que 37 casos (28,9%) ocorreram contra lideranças sem cargo político no momento da violência. Muitas delas são pré-candidatas a vereador ou à prefeitura nas próximas eleições”, pondera o Observatório. Porém, acrescenta, “independentemente da vítima ter ou não um cargo político, se considerarmos todos os casos contra lideranças que se intitulam pré-candidatas, tem-se 33 casos (25,8%): 17 contra pré- candidatos a prefeito (13,3%), 14 contra pré-candidatos a vereador (10,9%), e dois contra pré-candidatos a vice-prefeito (1,6%)”. 

Motivações

O coordenador do Observatório, Miguel Carnevale aponta que nesse universo da violência política, as motivações mais comuns são a briga pelo poder, por interesses econômicos e pelo controle político. “A disputa pelo controle é a violência mais comum dos pequenos municípios”, destaca.Carnevale ressalta, ainda, a presença dos casos de violência política relacionados às questões ideológicas. “É possível assinalar que nos últimos anos, o Brasil tem presenciado um aumento desta categoria de violência. 

Ela ainda não é, e eu imagino que nem venha a se tornar, a violência mais comum. A violência dos pequenos municípios, em busca do poder, de controle econômico, ainda é superior. Mas eu acredito que seja possível falar que há um aumento nessa violência ideologicamente motivada”, 

O pesquisador acrescenta que estudos feitos em outros campos — por exemplo, o da polarização política — vêm apontando “uma radicalização do eleitorado, principalmente na extrema direita, com uma ampliação da aversão contra o que é oposto”. Outro aspecto que vale destacar é a relação cada vez mais próxima entre organizações criminosas, especialmente milícias, e o poder político em diferentes níveis, esferas e locais, com destaque para o Rio de Janeiro. “

O crime organizado está diretamente relacionado à política, no Brasil inteiro, em alguns postos até oficialmente, assumindo cargos”, diz. Carnevale pontua o caráter clientelista dessa relação. “Muitas vezes, a política alimenta o crime organizado em algumas instâncias e o crime organizado alimenta a política, seja com ganho de votos, seja com entrega de áreas de apoio. Essa relação compõe o turbilhão de questões que guiam a violência política”. Perfilamento das vítimas

O estudo também segmentou os dados segundo categorias como gênero, idade e raça das vítimas. Em relação ao perfil social, 97 eram homens (75,8%) e 31 mulheres (24,2%). 

“O percentual de mulheres vitimadas aumentou 14 pontos percentuais em comparação com o trimestre anterior”, salienta o Observatório. 

Embora o levantamento não se detenha especificamente sobre o recorte de gênero, Carnevale aponta que “a violência física é mais recorrente entre os homens, enquanto as de caráter psicológico ou semiótico — como a destruição de reputação, objetificação e invisibilização da figura política — são mais recorrentes entre as mulheres”. 

O pesquisador também explica que, segundo análises estatísticas que fez, “foi possível observar que as mulheres são vítimas mais frequentes de violência em ambiente institucional e também quando o autor da violência é outra liderança política”.

Para ele, “esses resultados parecem encaminhar para uma visão que a literatura de violência política de gênero já põe na mesa de que o meio político é hostil às denúncias femininas, que o meio político parece reagir à entrada das mulheres na política”.

 Quando é feito o recorte racial, o estudo mostra que 49 lideranças se declararam brancas (38,3%), 29 pardas (22,7%), 13 pretas (10,2%) e uma amarela (0,8%). Não foi possível identificar a cor/raça de 36 lideranças (28,1%).

 A maior parte das vítimas, 34,4%, se concentra na faixa etária dos 40 aos 49 anos; em 46,9% dos casos (60), as vítimas tinham ensino superior. Por fim, o levantamento mostra que entre abril e junho de 2024, 23 partidos tiveram ao menos uma liderança atingida. O PL lidera a lista, com 15 casos (11,7%). Em seguida, surgem o PSB e o PP, com 11 casos cada (8,6% cada). 

O PT, que costuma ser um dos partidos políticos mais atingidos, aparece em quarto lugar, com 10 casos (7,8%). Não foi possível identificar a filiação partidária de 18 vítimas.

 O acompanhamento é feito a partir do Alerta do Google, que envia diariamente relatórios a partir de um conjunto específico de palavras-chave.

 As informações obtidas nesses veículos são depois validadas pela equipe de investigadores com outras fontes de modo a descartar mortes naturais, acidentais ou sem razão conhecida.As informações que compõem o perfil social e político das vítimas são obtidas no Repositório de Dados Eleitorais e na plataforma de Divulgação de Candidaturas e Contas do Tribunal Superior Eleitora

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