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13 Mar
Repressão brutal a aposentados em Buenos Aires expõe autoritarismo de Milei

GRANDE  manifestação de aposentados em frente ao Congresso Nacional argentino foi duramente reprimida pelas forças de segurança do governo ultraliberal de Javier Milei.

 O protesto, que reuniu aposentados, sindicatos e até torcidas organizadas de cerca de 30 times de futebol, era pacífico e tinha como objetivo denunciar os cortes na previdência, a perda de direitos e a deterioração do poder de compra –

 consequências diretas da agenda neoliberal que tem agravado a miséria entre os idosos.

A polícia usou gás lacrimogêneo, canhões d’água e balas de borracha contra manifestantes – muitos acima dos 70 anos – que reivindicavam aumento das pensões, acesso a medicamentos e a manutenção da moratória previdenciária. 

O ato, tradicionalmente pacífico, terminou com cenas de caos: idosos caídos no chão, viaturas incendiadas, além de Pablo Grillo, fotógrafo que foi atingido na cabeça por um cartucho de gás lacrimogêneo e permanece em estado crítico na UTI com traumatismo craniano.

De acordo com o jornal argentino La Nación, a repressão violenta resultou na prisão de 124 pessoas e deixou 53 feridos, com caso do fotógrafo sendo considerado grave. Entre os feridos, destaca-se o caso da aposentada Beatriz Bianco, de 87 anos, que sofreu uma queda após ser empurrada por um policial.

Fora a ministra da Segurança, Patricia Bullrich

Enquanto o presidente Javier Milei defende a liberdade como princípio absoluto, as políticas de seu governo têm demonstrado uma postura autoritária ao silenciar manifestações.

 Horas antes do ato, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, ameaçou torcidas organizadas que participassem do protesto, alertando para possíveis proibições de frequentar estádios de futebol. Essa postura contraditória – de pregar a liberdade enquanto reprime violentamente a expressão popular – expõe o ultraliberalismo que, na prática, tem aprofundado a crise social.

A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, justificou a ação ao acusar os manifestantes de planejar um “golpe” e portar armas, alegações não comprovadas. Horas antes, ela havia ameaçado proibir torcidas de estádios e criminalizar o protesto.

 A Justiça de Buenos Aires, no entanto, libertou 114 dos 124 presos, classificando as detenções como “inconstitucionais”

.A Associação de Repórteres Gráficos da República Argentina (aRGra) expressou em entrevista coletiva sua veemente condenação aos ataques cometidos pelas forças de segurança contra civis, em especial fotógrafos e cinegrafistas, que cobriam a repressão à marcha dos aposentados. 

O aRGra exigiu a renúncia da ministra da Segurança, Patricia Bullrich, e convocou uma “campanha” para a tarde desta quinta-feira.“Precisamos de liberdade de imprensa , como diz a Constituição Nacional, e não sermos mais prejudicados. 

Não é só Pablo: estamos há um ano e meio conversando com autoridades de segurança, pedindo que não nos prejudiquem mais. Evidentemente, isso não está funcionando”, disse a vice-presidente do sindicato, Alejandra Bartoliche.

Crise previdenciária: 60% dos aposentados vivem com R$ 1.970 em inflação de 117%

Os efeitos das medidas de Milei são devastadores para a população idosa: os preços de medicamentos dobraram, serviços essenciais se tornaram inacessíveis e quase 60% dos pensionistas vivem com o equivalente a R$ 1.970 mensais.

 Além disso, a moratória previdenciária, que permite a aposentadoria sem os 30 anos de contribuição, expira no final de março e não há previsão de renovação, o que agrava ainda mais a situação dos aposentados.As políticas de Milei mergulharam os aposentados argentinos em um colapso:

  • Pensões congeladas: O valor mínimo é de R$ 1.970, insuficiente para cobrir medicamentos, cujos preços dobraram em um ano.
  • Fim da moratória: A regra que permitia aposentadoria sem 30 anos de contribuição expira em março, deixando milhares sem direito.
  • Inflação galopante: A taxa acumulada desde a posse de Milei supera 100%, corroendo o poder de compra.

Para Martín Lousteau, senador da oposição, “há uma decisão política de abandonar os aposentados”. A crise é agravada pelo desmonte de programas sociais, paralização de obras públicas e perda de 200 mil empregos.

Do discurso libertário ao autoritarismo: a escalada repressiva de Milei

A resposta do governo, que justifica a repressão como medida para evitar que os manifestantes “tomem o Congresso” e utilizem armas, vem acompanhada de narrativas que denunciam a participação de “lumpen” e “gangsters”. 

No entanto, os registros das ruas e os depoimentos dos participantes contam uma história diferente: a de pessoas trabalhadoras, que lutam pelos seus direitos e enfrentam, de forma pacífica, um governo que, ironicamente, utiliza a violência para silenciar vozes críticas.A retórica de “liberdade absoluta” de Milei contrasta com a prática:

  • Leis antiprotesto: Desde dezembro, Bullrich criminaliza manifestações, usando um protocolo que restringe reuniões públicas.
  • Alvo preferencial: Movimentos sociais, indígenas e agora aposentados – grupos vulneráveis que desafiam o ajuste fiscal.
  • Narrativa belicosa: O governo acusa manifestantes de “narcopolítica” e “violência lumpem”, enquanto viralizam vídeos de policiais plantando armas no local.

Internamente, até mesmo setores não alinhados à esquerda repudiaram a ação. Nora Biaggio, líder dos aposentados, destacou: “A adesão das torcidas mostra que o desespero transcende ideologias”.

O futuro sob a intimidação de Milei será de mais protestos

O protesto que se repete reunindo homens e mulheres de cabelos brancos, toda quarta-feira, trouxe a novidade das camisetas de times de futebol. 

Aparentemente, torcedores de futebol viram algo que o resto do país não via: a solidão, o desamparo e a vergonha de pessoas que eram ignoradas toda semana pelo governo.

 Assim, torcedores e “velhos” marcharam juntos sem medo.A repressão a idosos marca um novo capítulo na escalada autoritária do governo:

  • Criminalização da pobreza: Bullrich já mirava “setores morenos e pobres”, mas agora incluiu idosos na lista.
  • Efeito Maradona: A frase do ex-jogador – “Temos que ser muito covardes para não defender os aposentados” – virou grito de guerra nas ruas.
  • Risco de radicalização: Com a moratória previdenciária prestes a expirar e inflação em alta, protestos devem crescer.

Com a mobilização envolvendo torcidas organizadas, sindicatos e movimentos sociais, o protesto de ontem deixou claro que, mesmo diante de uma repressão brutal, a população não se renderá ao autoritarismo. 

Em meio a gritos de indignação – ecoando até mesmo a famosa frase do ex-jogador Diego Maradona, “Tenemos que ser muy cagones para no defender a los jubilados” – a manifestação mostrou que o povo está acordando para o custo humano das políticas ultraliberais.

Nos próximos dias, as repercussões desse episódio poderão intensificar a pressão sobre o governo de Milei, que já enfrenta críticas de setores da sociedade e de parlamentares, que denunciam a crescente violência e o ataque aos direitos dos aposentados. 

Se a repressão se tornar uma prática rotineira, o clima de instabilidade poderá aumentar, aprofundando a crise social e política na Argentina.

Enquanto o fotógrafo Pablo Grillo luta pela vida no hospital, a mensagem do governo é clara: protestar custará caro. Mas, como disse uma aposentada de 85 anos, Cristina Delgado, veterana de quatro ditaduras: “Isso aqui é pior, porque é na democracia”. 

A Argentina escolheu a liberdade econômica radical, mas, pelas ruas de Buenos Aires, a pergunta é: liberdade para quem?

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