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11 May
PORQUE A ESQUERDA SE TORNOU LIBERAL !! QUAIS FORAM A CONTRADICOES!

Para entender as contradicoes ,,,Sejam quais forem as diferenças entre uma centro-esquerda moderna, a terceira via e um socialismo liberal, o que sobra é um socialismo renovado que se diz igualitário, que não pretende erradicar todas as desigualdades e que exige o reconhecimento do caráter potencialmente benéfico de um mercado regulamentado 

A questão não é nova, mas cada vez mais candente. As promessas de Liberdade-Igualdade-Fraternidade anunciadas pela República apontavam para um mundo compartilhado, e não se cumpriram.

 Como fazer para que esses compromissos não sejam apenas enunciados formalmente, como direitos, mas tornem-se dados concretos, efetivos? 

Evidentemente, é no domínio da “igualdade” que o descumprimento é mais flagrante, traduzindo-se tanto em diferenças gritantes de renda quanto na famosa “pane” do elevador social, ou, ainda, na crescente vulnerabilidade dos mais pobres que se convencionou chamar de “acidentes da vida”, advindas do desemprego, das doenças, entre outros

…Da mesma forma, a “liberdade” só tem sentido completo quando se pode escolher uma profissão, ou o lugar onde se quer morar. Todos livres e iguais, mas, claro, uns mais que outros…A missão tradicional da “esquerda” é buscar atenuar as disparidades. 

Mas depois da chamada “queda do comunismo”, as referências se relativizaram. Segundo alguns analistas, teríamos entrado então numa era radicalmente nova, marcada pelo famoso fim das ideologias, ou, na verdade, pelo fim da História1. 

Ainda que essa afirmação pareça um tanto arrogante, seria necessário, ao menos, reconhecer a morte da “utopia” comunista e o triunfo do bom senso e, com mais ou menos entusiasmo, aceitar que a economia de mercado e a democracia são intrinsecamente ligadas

.A partir daí, tudo se torna mais simplificado e mais complicado ao mesmo tempo. Simplificado porque tal ideia consagra o “mercado” como um dado natural e julga qualquer “revolução” destinada a inventar outra economia como um equívoco, tanto no plano das liberdades quanto no da eficácia – e a prova seriam os países do Leste Europeu. E complicado porque com os dois “extremos” legitimadamente desqualificados, a esquerda – de Anthony Blair a Lionel Jospin –

 tornou-se “realista” e Pascal Lamy, membro do Partido Socialista (PS), foi promovido a responsável da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A realidade, nesse contexto, permanece preocupante. As desigualdades crescem e os questionamentos se fazem urgentes, por vezes desoladores.

 Com a revolução excluída e a “modernidade” aceita, como fazer para que a democracia, o governo do “povo para o povo”, 

funcione, sob o regime do mercado?Certamente, os valores da esquerda diferem dos da direita, mas qual ideal, qual projeto para o mundo pode se afirmar sobre a marca do realismo? Não há, por definição – e ousemos dizê-lo –, contradições a nomear e resolver?Esse enorme problema gera enormes expectativas.

 E diz respeito não apenas aos eleitores de espírito dito socialista, mas provavelmente a todos os cidadãos inquietos, desejosos de compreender se as mazelas sociais são uma fatalidade, se o futuro tem apenas uma cara, com diferentes maquiagens, ou se uma mudança de fato é possível… Em suma, trata-se de questionar o pensamento da esquerda, que se tornou liberal.

O debate no âmbito desse socialismo modernizado procura responder se é a inscrição concreta de valores éticos no mundo real que, essencialmente, permitiria a concretização das promessas da democracia. 

Trata-se de uma concepção particular de igualdade e dos meios de alcançá-la. Propõe-se outra visão de homem.Talvez não seja completamente inútil procurar definir com mais exatidão a “esquerda liberal”, já que, às vezes, ela parece sofrer de falta de unidade.

O filósofo Serge Audier, conhecido por seus ensaios consagrados a Raymond Aron, lembra, no breve volume2 no qual retoma a genealogia do socialismo liberal, que este foi fundado sobre uma dupla recusa: a do liberalismo “burguês” e a do “totalitarismo comunista”

. Se a rejeição do “totalitarismo comunista” é certa, a do liberalismo “burguês” é mais fluida.
Sejam quais forem as diferenças entre uma centro-esquerda “moderna”, a terceira via do “New Labour”, e um socialismo liberal, que não seria uma “simples adaptação da social-democracia ao capitalismo”,

 o que sobra é um socialismo renovado que se diz “igualitário” e não “igualitarista”, que não pretende erradicar todas as desigualdades (naturais e sociais) e que “exige o reconhecimento do caráter irrefutável e potencialmente benéfico de um mercado regulamentado e correto”. Trata-se de por em prática, na lógica da eficácia econômica, uma “busca pela igualdade”, que se traduz em primeiro lugar pela exigência de “solidariedade”

.É exatamente esse ponto que caracteriza o socialismo liberal, sejam quais forem as nuances e divergências reivindicadas por cada corrente.

 O importante é renunciar ao igualitarismo – que visaria igualdade civil, política e social – e agir por uma “filosofia dos direitos do homem”, complementada pelos direitos sociais que reconhecem “a todos os indivíduos um mínimo de justiça social, condição de uma liberdade política efetiva”. Assim, adeus utopia e bem-vinda a lucidez: os homens não são, não podem ser, realmente iguais. 

Seria conveniente, no entanto, criar instrumentos que impeçam níveis gritantes de desigualdade, o que não seria frutífero nem para a democracia, nem para… o mercado. E a solidariedade está no núcleo desses dispositivos.Essa noção de solidariedade pertence ao domínio da filosofia política e moral e foi introduzida em 1840 por Pierre Leroux, um dos fundadores do socialismo republicano.

 Ele a explica de maneira clara: “quis substituir a caridade cristã pela solidariedade humana3”. Léon Bourgeois, um dos fundadores da Liga das Nações, prolongou essa reflexão sobre a “necessidade moral” da solidariedade como dever4 até o fim do século XIX. É uma noção que, além de substituir a ideia de justiça social, possui o charme da virtude fluida, já que dependeria de cada um, em seu espírito e consciência, muito mais do que da autoridade das leis.

Apoio aos “desfavorecidos”

A “solidariedade” permitiria a moralização do capitalismo brutal ao introduzir, no interior do próprio sistema, a “possibilidade” de suavizar suas agruras. É a consciência dolorosa da inevitabilidade da desigualdade entre indivíduos que induz à busca de uma conciliação entre eficácia econômica e apoio aos “desfavorecidos”.Essa concepção de desigualdade é central.

 E se articula perfeitamente com a própria ideologia do capitalismo, que supõe que o melhor ganhe, que o mais trabalhador ou o mais inteligente faz a diferença e sabe abrir seu caminho, contribuindo para a democracia. O sucesso vem para aqueles que merecem, e os mais belos dis
cursos igualitaristas não impedem que alguns sejam mais talentosos para subir na escala social.Monique Canto-Sperber, diretora do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), afirma que se a precariedade aumentou, “as oportunidades para os talentos e iniciativas” também aumentaram entre aqueles que sabem agarrar as oportunidades. O intervalo logicamente vai se aprofundar.

 Será assim, pois que não temos todos as mesmas capacidades.Seria preciso, portanto, acabar com os “mitos”, que serviram para alimentar o “terrível espetáculo” do socialismo “real”. E mais: seria preciso reconhecer que se “é possível exercer uma influência sobre o homem, não se pode modificá-lo”.

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