O marxismo não só é um guia para a ação, como um convite à mesma.
Hoje em dia, no cenário conturbado em que vive o Brasil,
é preciso dar instruções claras aos marxistas e democratas autênticos. O motivo é que do caos surge a incerteza, e da incerteza a paralisia.Para não cairmos no elitismo, ou no academicismo, ou qualquer forma de desvio que limite uma luta marxista a um debate infindável de ideias, precisamos aprender o que é o trabalho de base, bem como o melhor modo de aplicar tal coisa.Primeiro, comecemos com o que é “base” neste contexto.
“Base” pode ser entendida como um setor social, ou toda uma classe. Por exemplo, a base de um movimento estudantil são os estudantes; enquanto a base de um Partido Comunista deve ser toda a classe trabalhadora.Portanto, a base é a fundação popular sobre a qual qualquer movimento é erigido. Em outras palavras, é a força quantitativa de uma organização, enquanto sua ideologia, seus objetivos, etc., são a força qualitativa.Trabalho de Base, assim, significa, para os marxistas,
E para vencer a resistência dessas classes [dominantes] só há um meio: encontrar na própria sociedade que nos rodeia, educar e organizar para a luta, os elementos que possam — e, pela sua situação social, devam — formar a força capaz de varrer o velho e criar o novo.
Em outras palavras, trata-se de penetrar as camadas populares, educando-as para a via revolucionária, socialista; incutindo consciência de classe e fornecendo um programa que atenda suas reivindicações e leve à revolução.Mas, como fazer isso?Marx e Engels dão instruções claras em diversas obras, assim como Lênin. Citaremos algumas passagens, começando por Engels em seu obscuro[Esboço da Confissão de Fé de Um Comunista]:
Pergunta 6 : Como você deseja preparar o caminho para sua comunidade de propriedade?Resposta : Esclarecendo e unindo o proletariado.
Já no famoso Marx e Engels dizem:
Numa palavra, por toda a parte os comunistas apoiam todo o movimento revolucionário contra as situações sociais e políticas existentes.
Em poucas palavras, trata-se de cooperar com toda luta popular, bem como direcionar tal luta para o fim socialista. Para este propósito, é necessário, como bem observado por Lênin, um veículo de agitação, propaganda e organização coletiva: um jornal popular.Aqui, também fica evidente a necessidade de um norte ideológico, uma organização coesa, decididamente marxista, capaz de dar instruções claras ao povo e seus problemas imediatos.Isto, porém, não responde à questão de como um indivíduo deve realizar o trabalho de base.Imaginemos uma situação.
Uma organização inaugura seu jornal, seu veículo de imprensa. Seus militantes, muito poucos, começam a ir de fábrica em fábrica, de casa em casa, de sindicato em sindicato, vendendo-o.
Eventualmente, se bem escrito e justo, o jornal logo atraíra a simpatia de alguns trabalhadores.Suponhamos que, com curiosidade, este trabalhador simpático ao jornal decida entender melhor o que é defendido. Então, aquele que distribuiu o jornal fala sobre um curso de formação da organização, uma palestra, ou qualquer coisa assim.O trabalhador participa. Adquire um refinamento teórico.
Volta ao seu local de trabalho, orientado a ensinar seus colegas, além de denunciar qualquer irregularidade e transformar isto numa luta.Este trabalhador vira um simpatizante da organização. Um contato da mesma com uma base, uma base de trabalhadores.Agora, multipliquemos esse cenário por mil. Dez mil. Duzentos milhões.Eis a tarefa dos marxistas, portanto: divulgar a imprensa popular onde ela ainda não chegou, enquanto faz isso, ouvir sobre os problemas naquele local; e, caso já estejam inseridos no ambiente proletário, apurar bem os ouvidos para as lutas daquele lugar, promovendo campanhas de denúncias, incutindo a consciência de classes, etc.Não por acaso, durante toda a vida, Marx, em cada lugar que estacionava, criava um jornal, ou buscava ligação com um já existente; não por acaso,
(…) sem um órgão de imprensa política é inconcebível um movimento que mereça ser chamado político. Sem um órgão de imprensa política é absolutamente impossível cumprir nosso dever de concentrar todos os elementos de descontentamento de protesto político, de fecundar com estes o movimento revolucionário do proletariado.
Esta imprensa popular deve ser justa. Para ser justa, deve sempre educar, agitar e organizar sua base. De que forma?
Primeiro, incutindo as lições elementares da consciência de classes; segundo, delineando tarefas imediatas ao povo; e, por último, mostrando como realizar tais tarefas.Marx,
Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade se chocam com as condições de produção existentes ou, o que não é mais do que a expressão jurídica disto, com as relações de propriedade dentro das quais se têm movido até ali. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, essas relações se convertem em seus entraves. E se abre assim uma época de revolução social. Ao mudar a base econômica, transforma-se, mais ou menos lentamente, mais ou menos rapidamente, toda a imensa super-estrutura erigida sobre ela. Quando se estudam essas transformações, cumpre distinguir sempre entre as mudanças materiais operadas nas condições econômicas da produção e que podem ser apreciadas com a exatidão própria das ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas — ideológicas, em uma palavra — em que os homens adquirem consciência desse conflito e o combatem.