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21 Jan
Lula um Candidato do Centro quando você fala isso o povo não aceita !

As ideias reveladas por Lula, a propósito das eleições do final deste ano e de um eventual novo governo liderado por ele, têm gerado afetos contraditórios entre seus apoiadores. Essa oposição de opiniões, ideias e sentimentos tem ficado evidente entre as pessoas. Mas não só, muitas discussões têm sido feitas consigo mesmas. A origem dessa desarmonia talvez esteja numa avaliação idealizada da posição ideológica do ex-presidente.

A imprensa corporativa o trata como radical de esquerda. Será mesmo? A maior parte de seus apoiadores não o vê como radical, mas distante do centro à esquerda. Será mesmo? Lula estaria mais ao centro, mais distante da esquerda, do que se apregoam imprensa e apoiadores? 

Para se formular uma hipótese sobre essa questão é preciso partir de pontos de referência do que melhor caracterizaria esquerda e centro. A partir desse ponto será possível avaliar mais objetivamente as falas do ex-presidente. Mesmo admitindo a falibilidade e imprecisão de qualquer “definição” para os conceitos de esquerda e centro, Norberto Bobbio e Marcus Ianoni proveem, aqui, esses entende que “o igualitarismo é a característica distintiva da esquerda” e que a propriedade individual é “desde a antiguidade, um dos maiores, senão o maior obstáculo à igualdade entre os homens”.

Uma definição “estática” de centro seria aquela posição “que defende um capitalismo mitigado por políticas sociais e a democracia representativa (de baixa intensidade, com participação exclusivamente eleitoral)”,
O que está implícito em suas declarações em relação à igualdade, à propriedade privada, à mitigação do capitalismo por políticas sociais e à democracia representativa?

“O sistema financeiro vai ter que aprender, quando sentar para conversar com o presidente, a não ficar discutindo somente os seus interesses”, disse ele.

Essa afirmação parece revelar a disposição do ex-presidente em buscar entendimentos com o sistema financeiro, de forma a convencer seus integrantes da necessidade de ações de promoção de maior igualdade, o que parece guardar enorme distância de qualquer ameaça real ao capital financeiro. Ele relembrou os superávits fiscais primários de seu governo, não disse que aumentaria a tributação dos bancos, nem que buscaria sua estatização, nem que tentaria reverter a independência do Banco Central. 

Bem ao contrário, Lula já vislumbra a convivência “numa boa” com a autoridade monetária independente:

“As pessoas colocam um obstáculo no tal Banco Central independente. Esse BC tem que ter compromisso com o povo brasileiro, não comigo. Ele vai ter meta de inflação. Vamos colocar meta de emprego, vamos colocar meta de crescimento econômico também. Vamos comprometer [o BC] com alguma coisa positiva. E quem tem que chamar o cara para conversar sou eu… Vamos discutir o Brasil, numa boa.”

A defesa de do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e a declaração explícita de que buscará aliados no centro, e até na centro-direita, permitem novamente especular sobre sua posição mais à direita do que muitos supõem. Ele próprio admite sua caminhada até a centro-direita “se for o caso”:

“Eu não terei nenhum problema se tiver que fazer uma chapa com Alckmin para ganhar as eleições e para governar esse país… Vamos construir um programa de interesse da sociedade brasileira… Não abro mão que a prioridade é o povo brasileiro.”

O ex-presidente não falou em remédios amargos, nem em um nova carta aos brasileiros, como aquela que, supostamente, restringiu suas ações em 2003. Advertiu que a travessia será oceânica e que o sucesso será chegar vivo do outro lado:

“O Brasil de 2023 será um Brasil muito, muito, muito mais destruído do que o Brasil de 2003… O que você precisa é de inteligência política para construir as pessoas (sic) que podem querer remar junto com você para fazer essa travessia oceânica… É para fazer esse país que eu preciso construir uma relação política mais ampla que o PT. E não mais à esquerda, mas ao centro e, se for o caso, até com setores de centro direita.”

Trabalhar para que todos consigam subsistir com certa dignidade não parece ser uma atitude radical de esquerda. Lula não falou em expropriar a propriedade privada ou os meios de produção, nem a terra, nem as máquinas:

“Esse país só será soberano, democrático e respeitado quando todo mundo tiver acesso aos bens que ele ajuda a produzir, quando todo mundo puder estudar, puder comer, ter acesso à cultura…”

O ex-presidente disse acreditar que a consolidação da democracia brasileira se dará quando pessoas de origem nas camadas mais carentes da sociedade conseguirem galgar postos altos, por exemplo no Judiciário. Ele se propõe a aprimorar as instituições que dão sustentação ao capitalismo e não derrubá-las, destruí-las.

Ele demonstra acreditar na revitalização da política, fartamente criminalizada nesta quadra sombria, e acredita que conseguirá alcançar seu objetivo com a estrutura econômica e social existente: “É plenamente possível melhorar a vida desse povo".

Lula definitivamente não é um radical de esquerda. Não se pode definir com a mesma firmeza se seu discurso está indo no sentido da direita por crença pessoal ou por estratégia eleitoral e preocupação com a governabilidade. 

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