Golpismo e negacionismo: o pêndulo presidencial na crise com protecionismo
Golpismo e negacionismo: o pêndulo presidencial na crise com protecionismo
18 Sep
Bolsonaro ora ataca a democracia, ora a ciência. Enquanto isso, o Brasil vive problemas em série, com tensão institucional, tragédia sanitária e deterioração Bolsonaro ora ataca a democracia, ora a ciência. Enquanto isso, o Brasil vive problemas em série, com tensão institucional, tragédia sanitária e deterioração econômica
A extrema-direita brasileira esteve no poder em dois momentos históricos específicos da história do país: primeiro através da Ditadura Militar (1964-1985) e segundo através de Jair Bolsonaro (a partir de 2019). Apesar de se inspirar direta e declaradamente nos militares golpistas dos anos 1960, Bolsonaro apresenta diferenças relevantes em relação a esses. A diferença que busco debater neste texto é referente a política externa e econômica, sendo os militares representados pelo nacionalismo de fins e Bolsonaro pelo puro e simples entreguismo. Apesar de representarem uma radicalização da direita brasileira, opondo-se a governos progressistas que lhe antecederam, e de terem as Forças Armadas como suporte ideológico e institucional, o golpe civil-militar de 1964 e a vitória eleitoral de Bolsonaro em 2018 estão inseridos em distintas faces do capitalismo. Se em meados dos anos 1960, os ideais neoliberais ainda se mantinham restritos aos círculos universitários de Chicago, em 2018 o neoliberalismo estava amadurecido e vigente em diversos aspectos da vida.
Por isso que os militares de 1964, apesar de alinhados com os interesses do capital estrangeiro, estiveram longe de uma política econômica privatista e entreguista. A fase do capitalismo naquela conjuntura não permitia a venda brusca do patrimônio nacional, que só vai ter início a partir do governo de Fernando Collor e já sob a chamada “Nova República”. Por essa razão, alguns desinformados buscam desvincular o liberalismo da Ditadura Militar, como se os interesses da iniciativa privada e do capital estrangeiro só pudessem ser atendidos através de uma forte e intensa política de redução da máquina pública. É a velha e deficiente dicotomia entre liberalismo e Estado que não faz o menor sentido, principalmente num país de capitalismo dependente onde sua burguesia se desenvolveu atrelada e financiada pelo Estado, vide o período da Era Vargas e a ascensão meteórica da burguesia industrial após 1930.
Com base nas ideias de Moniz Bandeira, extraordinário cientista político e especialista nas relações entre Brasil-EUA, busco mostrar como essa diferença conjuntural repercutiu diretamente na política externa e econômica dos militares e de Bolsonaro. O primeiro ponto a ser dito é que a chamada linha dura (representada pelos governos Costa e Silva, Médici, Geisel e João Figueiredo) se distancia da política externa e econômica de Bolsonaro; enquanto o governo Castelo Branco se aproxima, principalmente no alinhamento aos EUA. Após o golpe civil-militar, as Forças Armadas sofreram um duro racha representado, basicamente, pela linha dura nacionalista de um lado e os militares vinculados a Escola Superior de Guerra (ESG) do outro. Esses militares vinculados a ESG, tendo como representante nomes como Golbery do Couto e Silva e o já citado Castelo Branco, eram simpáticos a aproximação entre Brasil e os EUA, assim como adotavam políticas econômicas mais liberais, chegando a ter Roberto Campos como seu condutor. Essas políticas econômicas significavam arrocho salarial, redução do investimento público e adoção as medidas impostas pelo FMI.