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03 Mar
Desobediência financeira, arma anticolonial

Diariamente, a classe trabalhadora produz diversas riquezas, mas por conta de uma contradição sistêmica é ela a mais endividada. 

O mesmo acontece com economias mundiais, sendo as economias do terceiro mundo, exploradas e espoliadas por anos a fio, as que mais sofrem com dívidas externas galopantes

.Entre a classe explorada, há ainda aquelas que trabalham de forma gratuita para manutenção da acumulação de capital, nos trabalhos de reprodução e cuidado e que, apesar disso, cada vez mais se endividam para custear necessidades básicas – enquanto bancos e super ricos lucram exponencialmente.Tendo isso em vista, quem é que realmente deve pagar a conta?

  1.  Da especulação imobiliária que sujeita famílias inteiras a viver nas ruas à financeirização da educação com o financiamento privado do ensino superior – um arco-íris de esperança para milhares de jovens, onde em seu fim espreitam grandes grupos empresariais vivendo às custas da dívida.

  2. A obra expõe como o endividamento é uma forma de violência contra pessoas que cada vez mais angustiadas acabam por recorrer a mecanismos como o microcrédito, um dos mais vorazes instrumentos da atual exploração.

  3. Isso ocorre, de acordo com as organizadoras, através de um processo chamado colonização financeira da reprodução social, afinal, subjuga “as populações mais empobrecidas e precarizadas como território de conquista”, tornando-as “dependentes da dívida para sua economia cotidiana”. 

  4. Como quem paga a conta do cartão de crédito com outro cartão de crédito

  1. Endividamento como instrumento de acumulação global

  2. O endividamento, longe de ser um problema individualizado, consequência “apenas” de uma “má gestão financeira”, é um instrumento de acumulação de capital, ou seja, é uma questão coletiva que afeta principalmente as populações e economias terceiro-mundistas.

  3. O endividamento, de fato, não pode ser reduzido a uma questão de má gestão financeira individual. 

  4. Ele é um fenômeno estrutural e global, profundamente ligado às dinâmicas do capitalismo e às relações de poder entre países e classes sociais. 

  5. No contexto dos países terceiro-mundistas, o endividamento assume um papel central na manutenção de desigualdades e na exploração de recursos e mão de obra.

    O endividamento como instrumento de acumulação de capital

    O endividamento funciona como um mecanismo de acumulação de capital, especialmente em um sistema econômico globalizado e financeirizado.

  6. Países periféricos, muitas vezes com economias fragilizadas por séculos de colonialismo e exploração, são pressionados a contrair empréstimos para financiar desenvolvimento, infraestrutura ou até mesmo para cobrir déficits fiscais. No entanto, as condições desses empréstimos, frequentemente impostas por instituições financeiras internacionais como o FMI e o Banco Mundial, reforçam ciclos de dependência e subordinação.

  7. As taxas de juros elevadas, as políticas de austeridade e as condicionalidades associadas a esses empréstimos (como cortes em serviços públicos e privatizações) beneficiam os credores e as elites globais, enquanto aprofundam a pobreza e a desigualdade nas nações endividadas. 

  8. Dessa forma, o endividamento não é apenas uma questão econômica, mas também política e social, que perpetua a dominação de países centrais sobre os periféricos.

    Uma questão coletiva e global

    O endividamento afeta populações inteiras, especialmente as mais vulneráveis. 

  9. Nos países periféricos, os custos do endividamento recaem sobre os trabalhadores, que enfrentam cortes em direitos sociais, aumento de impostos e precarização do trabalho. 

  10. Além disso, a dívida externa limita a capacidade dos Estados de investir em políticas públicas, como saúde, educação e infraestrutura, essenciais para o desenvolvimento humano e econômico.

  11. A dívida também tem um caráter histórico e colonial. Muitos países do chamado "Terceiro Mundo" herdaram dívidas de regimes autoritários ou coloniais, que foram contraídas sem o consentimento das populações locais.

  12. Essas dívidas, muitas vezes ilegítimas, continuam a ser cobradas, perpetuando ciclos de exploração e dependência.

    Resistências e alternativas

    Diante desse cenário, movimentos sociais e organizações internacionais têm defendido a auditoria das dívidas públicas, a anulação de dívidas ilegítimas e a construção de um sistema financeiro mais justo e democrático. 

  13. A luta contra o endividamento opressivo faz parte de um projeto maior de transformação social, que busca romper com as estruturas de dominação e exploração do capitalismo global

  14. .Portanto, o endividamento é, sim, uma questão coletiva, que exige soluções estruturais e solidárias, tanto no âmbito nacional quanto internacional.

  15.  Enquanto instrumento de acumulação de capital, ele reflete e reforça as desigualdades globais, mas também pode ser um campo de luta por justiça e soberania econômica.

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