COMO A INDIA IRA MUDAR SEU PRETECIONISMO SOB O DOMINIO BRITANICO
COMO A INDIA IRA MUDAR SEU PRETECIONISMO SOB O DOMINIO BRITANICO
18 Sep
A Índia desafiará a ordem eurocêntrica?
Por cem anos uma civilização de milênios, sofisticada e diversa, manteve-se sob domínio britânico.
Mas libertou-se e ensaia agora uma aproximação com a China. Seu papel na construção do Sul Global foi (e pode voltar a ser) de grande relevância
A civilização indiana é tão ou mais antiga que a chinesa, embora seu desenvolvimento tenha sido mais descontínuo e menos homogêneo.
Sua formação se deu ao longo do Rio Indo, e o processo de “sedentarização” de suas populações começou por volta do ano 5000 a.C. Seu território, entretanto, foi objeto de inúmeras invasões e ocupações por parte de povos “estrangeiros”.
Por volta de 1500 a.C., a região foi ocupada por povos indo-europeus provenientes do Mar Negro e do Mar Cáspio, quando se inicia o Período Védico.
No ano de 520 a.C., seu território foi invadido por Dario, o Rei da Pérsia, e permaneceu 200 anos sob o domínio persa, até a invasão por Alexandre, o Grande, que trouxe consigo as marcas da civilização grega.
Todas essas sucessivas invasões, que prosseguiram nos séculos seguintes, só conseguiram se instalar de forma periférica, como entrepostos militares ou mercantis de uma produção local diversificada e sofisticada que fora obra milenar de uma população que era cultural e linguisticamente heterogênea, mas que seguia majoritariamente o hinduísmo, a mais antiga de todas as religiões.
Até o momento em que se iniciaram as invasões e conquistas muçulmanas, no século VII, provenientes do Sistão, atual Irã, e que deram origem ao Império Mogol ou Mogul, fundado por Babur, descendente de Gengis Kan, e que chegou a dominar quase todo o subcontinente indiano entre 1526 e 1857.
Essa estrutura imperial durou até 1720, pouco depois da morte do último grande imperador mogol, Aurangzeb.
Pouco depois, em 1763, a Companhia Inglesa das Índias Orientais impôs seu domínio mercantil e tributário sobre a região de Bengala e, a partir daí, progressivamente, sobre todo o território indiano, até que as forças do Império Britânico derrotaram a rebelião indiana de 1857-58, submetendo a Índia ao governo imperial da Coroa Britânica, de 1858 até sua independência, em 15 de agosto de 1948.Em 1885, foi fundado o Congresso Nacional Indiano, primeira semente revolucionária de um movimento que adquiriu plena maturidade a partir de 1930, quando Gandhi lançou seu Movimento da Desobediência Civil, que culminaria com a independência indiana e a divisão dos territórios britânicos entre Paquistão e Índia, e posteriormente, Bangladesh.
Depois de sua independência, a Índia adotou uma política externa anticolonialista e sofreu o efeito imediato da coincidência de sua data de independência com a data do início da Guerra Fria, logo antes da vitória da Revolução Comunista na China
. Esses fatos por si só colocaram o território indiano no coração de um espaço geopolítico que teve grande importância durante toda a segunda metade do século XX, durante a Guerra do Vietnã, e após a queda do Xá do Irã e a invasão soviética do Afeganistão, ocorridas em 1979. Nesse período, a Índia enfrentou várias guerras de fronteira, três com o Paquistão (1948, 1965 e 1971) e uma com a China (1962), manteve uma disputa aberta com Bangladesh (1979), em relação à nacionalidade de uma ilha na Baía de Bengala, e desde então mantém um litígio permanente com o Paquistão em torno a suas fronteiras na região de Jammu e Caxemira
.Constrangida pela forma como se deu a luta por sua independência, a Índia adotou uma posição de liderança inconteste e ativa dentro do Movimento dos Países Não-Alinhados, nascido da Conferência de Bandung, em 1955, apoiando um “neutralismo ativo” e uma defesa intransigente da soberania e igualdade de todas as nações contra todo tipo de pressão ou ingerência das grandes potências nos assuntos internos dos demais Estados.
Estabeleceu um relacionamento econômico, político e militar muito estreito com a antiga URSS, que se manteve depois com a Rússia.A Índia não apresenta, à primeira vista, as características de uma potência expansiva, e se comporta, estrategicamente, como um Estado que foi obrigado a se armar para proteger e garantir sua segurança numa região de alta instabilidade.
Assim mesmo, desenvolve e controla tecnologia militar de ponta, como no caso de seu sofisticado sistema balístico e arsenal atômico; possui, ainda, um dos exércitos mais bem treinados de toda a Ásia.
Mas foi só depois da sua derrota militar para a China, em 1962, e da primeira explosão nuclear chinesa, em 1964, logo antes da guerra com o Paquistão, em 1965, que a Índia abandonou o “idealismo prático” da política externa de Nehru e adotou a Realpolitik do primeiro-ministro Bahadur Shastri, que autorizou o início do programa nuclear, na década de 60.
Foi quando a Índia atingiu sua maturidade, com as explosões nucleares de 1998 e o sucesso do míssil balístico Agni II, em 1999. Naquele momento, ela se tornou uma potência atômica e definiu sua nova estratégia de inserção regional e internacional, com base na afirmação simultânea de seu
novo poder militar
.Por outro lado, desde sua independência, a Índia vem adotando uma estratégia econômica de corte fortemente nacionalista, e hoje é o país com maior crescimento econômico dentro do sistema mundial.
Apesar do viés cada vez mais orientado na direção asiática, a política externa indiana mantém uma equidistância pragmática com relação a Estados Unidos, Europa e China, e em algum momento esteve próxima de se transformar em um aliado atômico dos americanos.
Mais recentemente, voltou a distanciar-se dos Estados Unidos e de seu projeto de construção de um cerco nuclear da China, com a possibilidade de extensão da área de atuação da OTAN até a região Indo-Pacífica
.Muito recentemente, já em meados de 2024, houve um movimento de reaproximação entre Índia e China, as nações mais populosas do planeta, que somam juntas três bilhões de habitantes e já são a primeira e a terceira maiores economias do mundo, respectivamente, por paridade de poder de compra. Esta reaproximação sinaliza o desejo de resolver suas disputas de fronteira na Caxemira e em Arunachal Pradesh, que remontam a décadas ...