Em 7 de setembro, a cada ano, festeja-se a independência dos escravistas, em 1822, e a capacidade das classes dominantes de manterem o mundo do trabalho e a população na subordinação, jamais tão plena como nos dias atuais
Estado absolutista português, obtendo suas independências, ao igual do que ocorria, desde 1810, com as províncias hispano-americanas. Porém, ao contrário das últimas, faziam-no em forma unitária. Até hoje as razões do unitarismo brasileiro assombra não apenas a historiografia tradicional, com dificuldade em explicá-lo. Como nas colônias espanholas, pouco unia as províncias luso-brasileiras. A América portuguesa fora sempre mosaico de regiões semi%u211autônomas, de frente para a Europa e para a África, de costas umas para as outras. Elas exportavam pelos portos da costa seus produtos e importavam manufaturados e cativos. Eram frágeis os contatos entre as capitanias-províncias e inexistia qualquer coisa como um mercado nacional.
Os grandes proprietários controlavam o poder regional e viviam em associação subordinada às classes dominantes portuguesas metropolitanas. Eles sentiam-se membros do império lusitano, possuíam laços identitários regionais, desconheciam sentimentos de ´brasilidade’, impensáveis na ausência de entidade nacional. O Rio de Janeiro estava mais próximo de Angola do que da maior parte do resto da colônia. Em inícios dos anos 1820, nas províncias luso-brasileiras, atuavam iguais forças centrífugas que explodiram a América espanhola em constelação de repúblicas, apesar de suas classes dominantes terem o espanhol, o catolicismo e a Espanha como língua, religião e metrópole comuns.
A sonhada independência das Províncias
Quando da crise dos anos 1820, as classes dominantes regionais almejavam a independência em relação à Lisboa e ao Rio de Janeiro; nacionalizar o comércio português; resistir ao abolicionismo inglês do tráfico internacional de trabalhadores escravizados; reinar sobres suas províncias. Elas dividiam-se em torno de soluções monarquistas e republicanas, federalistas e separatistas. No Norte, Nordeste, Centro-Sul e Sul, eram fortes o republicanismo e o separatismo. A tendência dominante era a explosão do Reino do Brasil também em uma profusão de repúblicas ao igual que a América Hispânica. Porém, as províncias luso-brasileiras emergiram da Independência coercidas por monarquia autoritária e centralizadora, sob o tacão do herdeiro da coroa lusitana.
Sobretudo, os grandes proprietários preocupavam-se em obter a independência e não comprometer a escravidão, fundamento da produção de riquezas em todas as províncias. Choques militares entre as classes proprietárias provinciais e as tropas portuguesas, na luta por independência radical, e entre as províncias, na definição das novas fronteiras das diversas nações nascentes, fragilizariam a submissão dos cativos e a manutenção do tráfico. A guerra levaria ao arrolamento e à fuga de cativos, como ocorrera no passado. A recente insurreição vitoriosa dos cativos no Haiti aterrorizava os escravistas. As novas nações luso-brasileiras que abolissem a escravidão acoitariam cativos fujões. Nenhuma delas, isoladas, resistiria ao abolicionismo britânico do tráfico.
A independência e o Estado monárquico, autoritário e centralizador foram paridos pelos proprietários escravistas das grandes províncias e pelos poderosos traficantes de cativos. Os ideários republicanos, liberais, separatistas e federalistas provinciais foram reprimidos e enviados às calendas. A independência do Brasil foi a mais conservadora das Américas. Os senhores brasileiros de homens e de terras romperam com o Estado absolutista português e entronizaram o autoritário herdeiro do reino lusitano. Cortaram as amarras com a ex-metrópole e transigiram com os seus interesses mercantis e de sua casa real. Substituíam o tacão de Lisboa pelo do Rio de Janeiro. Mantiveram-se unidos para garantir, por mais seis décadas, a dura exploração do trabalhador escravizado. Mas tudo se paga nesta vida. A independência conservadora, autoritária, elitista partejou um país semi-colonial. A economia seguia sendo fortemente determinada pela Inglaterra, ainda que as classes dominantes tupiniquins mantivessem as rédeas políticas do país,