Para explicar o fenômeno das novas direitas, assim como a sua ascensão vertiginosa no cenário político contemporâneo, Rodrigo Nunes, num artigo de grande qualidade (Nunes, 2024), aponta para a existência e persistência de um “operador ideológico” em sua base; para que ocorresse, segundo ele, era preciso que o seu crescimento fosse impulsionado pelo “empreendedorismo”.
A base do fenômeno social aqui, portanto, é uma disposição psicopolítica
.Para que a aliança tácita de classe constitutiva desse movimento fosse posta, era necessário, segundo ele, que “algumas imagens e palavras produzissem uma identificação”.
Só essa mediação tornou possível que interesses tão diversos, desde aqueles dos trabalhadores informais, de setores das classes médias até dos capitalistas financeiros, fossem soldados politicamente.
A "Nova Direita" é um termo que se refere a um conjunto de movimentos, ideias e pensadores que emergiram principalmente na Europa a partir da segunda metade do século XX, contestando tanto a tradição liberal clássica quanto a esquerda progressista.
A base estrutural da Nova Direita pode ser compreendida a partir de vários pilares ideológicos, culturais e políticos. Aqui estão alguns dos elementos centrais:
1. Crítica ao Liberalismo e ao Globalismo
A Nova Direita frequentemente critica o liberalismo econômico e político, argumentando que ele promove o individualismo excessivo, a erosão das identidades nacionais e culturais, e a homogeneização global.
O globalismo é visto como uma força que dilui as fronteiras nacionais e as tradições locais, favorecendo uma elite transnacional em detrimento das populações locais.
2. Defesa das Identidades Nacionais e Culturais
Um dos pilares centrais da Nova Direita é a defesa das identidades nacionais, étnicas e culturais. Eles argumentam que cada povo tem o direito de preservar sua cultura, tradições e valores.
Essa defesa muitas vezes se traduz em uma oposição à imigração em massa e ao multiculturalismo, que são vistos como ameaças à coesão social e à identidade nacional.
3. Europa das Nações
A Nova Direita europeia frequentemente advoga por uma "Europa das Nações", onde cada país mantém sua soberania e identidade cultural, em contraste com a visão de uma União Europeia centralizada e burocrática.
Eles defendem uma Europa baseada em cooperação entre nações soberanas, em vez de uma integração supranacional.
4. Crítica ao Progressismo e ao Marxismo Cultural
A Nova Direita é crítica em relação ao que chamam de "marxismo cultural", que eles associam à esquerda progressista e a movimentos como o feminismo radical, o ambientalismo radical e os movimentos LGBTQ+.
Eles argumentam que essas ideologias promovem a divisão social e a destruição de valores tradicionais.
5. Conservadorismo Social
A Nova Direita frequentemente defende valores conservadores em relação à família, religião e moralidade. Eles promovem a ideia de que a sociedade deve ser baseada em estruturas tradicionais e hierárquicas.
A religião, especialmente o Cristianismo na Europa, é vista como um pilar fundamental da civilização ocidental.
6. Populismo e Democracia Direta
Muitos movimentos associados à Nova Direita adotam um discurso populista, posicionando-se como defensores do "povo" contra as elites políticas e econômicas.
Eles frequentemente defendem mecanismos de democracia direta, como referendos, como forma de aumentar a participação popular e limitar o poder das elites.
7. Soberanismo e Anti-Elitismo
A Nova Direita frequentemente se opõe às elites políticas, econômicas e midiáticas, que são acusadas de promover agendas globais em detrimento dos interesses nacionais e locais.
O soberanismo é uma característica marcante, com a defesa da soberania nacional contra instituições internacionais e acordos globais.
8. Realismo Geopolítico
Em termos de política externa, a Nova Direita tende a adotar uma abordagem realista, enfatizando a importância do poder nacional, da soberania e do equilíbrio de poder entre as nações.
Eles são frequentemente céticos em relação a intervenções militares e a promoção da democracia no exterior.
9. Crítica ao Capitalismo Financeiro
Embora nem todos os grupos da Nova Direita sejam anti-capitalistas, muitos criticam o capitalismo financeiro e a especulação, defendendo uma economia mais voltada para a produção e o trabalho local.
Eles frequentemente defendem políticas protecionistas para proteger a indústria nacional e os trabalhadores locais.
10. Foco na Segurança e Ordem
A Nova Direita frequentemente enfatiza a importância da lei e da ordem, defendendo políticas de segurança rigorosas e o combate à criminalidade.
Eles também tendem a ser críticos em relação ao que veem como uma excessiva preocupação com os direitos dos criminosos em detrimento das vítimas.
Conclusão
A Nova Direita é um fenômeno complexo e multifacetado, que combina elementos de conservadorismo, nacionalismo, populismo e crítica ao liberalismo e ao globalismo.
Embora haja variações entre os diferentes movimentos e pensadores associados a essa corrente, esses pilares ideológicos fornecem uma base estrutural comum que define a Nova Direita no contexto contemporâneo