Como será o mundo multipolar e a nova ordem econômica mundial
Como será o mundo multipolar e a nova ordem econômica mundial
01 Jul
01Jul
Como será o mundo multipolar e a nova ordem econômica mundial
É fato que há padrões de desenvolvimento econômico de longo-prazo, cuja análise e compreensão nos permite prever eventos que estão ocorrendo na atualidade. Estamos vivenciando agora uma mudança simultânea nas estruturas tecnológicas e econômicas mundiais;
enquanto a base tecnológica da economia está mudando, a transição para novas tecnologias básicas está ocorrendo e o sistema de gerenciamento também está sendo transformado. Este tipo de evento ocorre uma vez a cada século.
No entanto, os padrões tecnológicos mudam uma vez a cada 50 anos, e a mudança destes geralmente é acompanhada por uma revolução tecnológica, por uma depressão e por uma corrida armamentista. E os padrões econômicos mundiais mudam uma vez a cada 100 anos e as suas mudanças são acompanhadas por guerras mundiais e revoluções sociais. Isto deve-se ao fato que a elite dominante nos países centrais da antiga estrutura econômica mundial impede as mudanças, não leva em conta a emergência de sistemas mais eficazes de gestão, tenta bloquear o desenvolvimento de novos líderes que as usam e tenta manter a sua hegemonia e posição de monopólio por todos os meios, incluindo os meios militares e revolucionários.Há 100 anos, digamos, o Império Britânico estava tentando manter a sua hegemonia sobre o mundo. Quando este já estava perdendo economicamente para os recursos combinados do Império Russo e da Alemanha, a Primeira Guerra Mundial foi lançada, provocada pelos serviços de inteligência britânicos, durante a qual os três impérios europeus se autodestruíram. Estou falando sobre o colapso da Rússia czarista e dos impérios alemão e austro-húngaro, mas isso inclui também o quarto império otomano
. Quanto ao Reino Unido, este manteve a dominância global durante algum tempo e até tornou-se o maior império do planeta. Porém, devido às inexoráveis leis de desenvolvimento socioeconômico, o sistema econômico colonial do mundo – na verdade, baseado no trabalho escravo – não conseguia mais prover o crescimento econômico.A introdução de dois modelos políticos completamente novos – o soviético e o estadunidense – provaram ter uma eficácia produtiva muito maior, porque foram organizados sobre princípios diferentes: não para o capitalismo de famílias privadas, mas sim para o poder de grandes corporações multinacionais, contando com estruturas centralizadas de regulação econômica e a ilimitada emissão monetária usando a moeda fiduciária (em meios de papel ou eletrônicos) – as quais ativaram a produção em massa de produtos muito mais eficazmente do que os sistemas de controle dos impérios coloniais do século XIX.A emergência dos estados sociais na URSS e nos EUA, com sistemas centralizados de gestão, possibilitou um salto significativo no desenvolvimento econômico destes; na Europa, foi formado o sistema de governança corporativa; infelizmente, segundo o modelo nazista na Alemanha e também sem deixar de ter o apoio dos serviços de inteligência britânicos. Apoiado pelas agências britânicas e pelo capital estadunidense, Hitler desenvolveu rapidamente um sistema centralizado de governança corporativa na Alemanha – o qual permitiu que o Terceiro Reich conquistasse rapidamente toda a Europa. Com a ajuda de Deus, nós [os russos] derrotamos esta ordem econômica mundial fascista alemã (ou europeia, levando em conta as realidades atuais). Depois disso, dois modelos permaneceram no mundo, os quais eu denomino como a ordem econômica imperial mundial: o modelo soviético e o modelo ocidental (tendo como centro os EUA). Após o colapso da União Soviética – que fracassou em aguentar a concorrência global devido ao fato de que o seu sistema de gerenciamento planificado não era suficientemente flexível para responder às necessidades do desenvolvimento tecnológico – os Estados Unidos tomaram a dominação global durante algum tempo.
Mas agora este período de “solidão unipolar estadunidense” já está terminando, provavelmente não somente graças à Rússia, porém, em primeiro lugar, graças à China e às regiões asiáticas. Isso é verdade?Certamente.
As estruturas hierárquicas verticais características do sistema econômico imperial mundial acabaram revelando-se rígidas demais para assegurar processos de inovação contínuos e perderam eficácia em assegurar o crescimento da economia mundial. Uma nova ordem econômica mundial foi formada na periferia, baseada em modelos flexíveis de gestão, na organização de redes de produção, nos quais o Estado funciona como um integrador, combinando os interesses de vários grupos sociais ao redor de uma meta – aumentar o bem-estar social público.
O exemplo mais importante de tal economia mundial integrada hoje é a China, que cresceu três vezes mais rápido do que o crescimento da economia dos EUA por mais de 30 anos. Atualmente, a China já ultrapassa os EUA em termos de produção, exportação de bens de alta tecnologia e taxas de crescimento.Um outro exemplo do modelo da nova ordem econômica mundial – a qual chamamos de integral devido ao fato que, nesta, o Estado une todos os grupos sociais que diferem nos seus interesses específicos – é a Índia, que tem um sistema político diferente, mas também tem a primazia dos interesses públicos sobre os interesses privados, e onde o Estado busca maximizar a taxa de crescimento a fim de combater a pobreza.
Ao mesmo tempo, a Índia usa mecanismos de competição do mercado, o que possibilita assegurar a mais alta concentração de recursos para a revolução tecnológica a fim de promover saltos econômicos baseados numa nova ordem tecnológica avançada. Se verificarmos as taxas de crescimento desde 1995, a economia chinesa cresceu 10 vezes, enquanto a economia dos EUA cresceu apenas 15%. Assim, fica óbvio para todos que o ritmo atual de crescimento econômico global está mudando para a Ásia: China, Índia e Indochina são países que já produzem mais produtos que os EUA e a União Europeia. Se adicionarmos o Japão ou a Coréia – onde o sistema de gerenciamento é similar nos seus princípios de integrar a sociedade em torno da meta de melhorar o bem-estar social – podemos dizer que atualmente esta nova ordem econômica mundial já domina o mundo, e que o centro de reprodução da economia mundial se mudou para o Sudeste da Ásia. Obviamente, a elite dominante dos EUA não consegue concordar com isso
.Aguentar isso, eu diria…Sim. Assim como fez o Império Britânico outrora, eles [os EUA] tentam manter a sua hegemonia no mundo. Os eventos que ocorrem atualmente são manifestações de como a elite oligárquica financeira e de poder nos Estados Unidos está tentando manter a dominação mundial. Pode se dizer que, nos últimos 15 anos, esta elite está travando uma guerra híbrida, buscando criar caos nos países que estão fora do seu controle e refrear o desenvolvimento da República Popular da China. Porém, devido ao sistema de gerenciamento que já é arcaico, eles não conseguem fazer isso. A crise financeira de 2008 foi um desses momentos de transição, quando o ciclo de vida da ordem tecnológica cessante na verdade já terminou e o processo de redistribuição em massa do capital para uma nova ordem tecnológica começou – o cerne da qual é um complexo de tecnologias de nanobioengenharia e de comunicações e informações. Todos os países começaram a injetar dinheiro nas suas economias. A coisa mais simples que um Estado moderno pode fazer é dar acesso a dinheiro barato de longo-prazo a todas as empresas, de modo que estas possam adotar as novas tecnologias. Porém, enquanto nos EUA e na Europa estes fundos foram gastos principalmente em bolhas financeiras e criaram déficits orçamentários, na China a enorme emissão monetária foi completamente dirigida para o crescimento da produção e o desenvolvimento de novas tecnologias. Não houve bolhas financeiras. E a alta monetização da economia chinesa não produziu inflação, pois o crescimento do suprimento de dinheiro foi acompanhado por um aumento na produção de bens, na introdução de novas tecnologias avançadas e no aumento do bem-estar social público.Atualmente, a concorrência econômica já levou os EUA a a perderem a sua liderança. Se você se lembrar, Donald Trump tentou conter o desenvolvimento da China através de uma guerra comercial, porém nada resultou disso.
Por que não? Será que Trump – que está acostumado a tomar riscos e entrar com tudo, não teve determinação suficiente?Nem mesmo Trump conseguiu fazê-lo, porque a China tem um sistema de gerenciamento mais eficaz, o qual permite que nos concentremos de maneira mais completa possível na produção de recursos disponíveis. Ao mesmo tempo, o gerenciamento do dinheiro mantém a questão monetária no quadro da reprodução expandida do setor real da economia, centrando-se no financiamento de investimentos para o desenvolvimento. A China alcançou os níveis mais altos de poupança de todos os países: cerca de 45% do PIB é investido, comparado com 20% nos EUA ou na Rússia. Na verdade, isto assegura a taxa super-alta de crescimento da economia chinesa.Em geral, os EUA estavam condenados à derrota nesta guerra comercial, porque o Império do Meio consegue produzir produtos de maneira mais eficiente e financiar o desenvolvimento de formas mais baratas. O sistema bancário inteiro na China é estatal, opera como uma única instituição de desenvolvimento – dirigindo fluxos de dinheiro para expandir a produção e desenvolver novas tecnologias. Nos EUA, o suprimento de dinheiro é usado para financiar o déficit orçamentário e é realocado para as bolhas financeiras.
Como resultado disso, a eficácia dos sistemas financeiro e econômico dos EUA é de apenas 20%; lá, somente um em cada cinco dólares chega à economia real, enquanto na China quase 90% (isto é, quase todos os yuans criados pelo Banco Central da RPC) alimentam o quadro da produção em expansão e asseguram um crescimento econômico ultra-alto.As tentativas de Trump de limitar o desenvolvimento da China através de métodos de guerra comercial falharam. Ao mesmo tempo, elas atuaram como um bumerangue nos próprios EUA. Então, os estadunidenses abriram a frente de guerra biológica, lançando o coronavírus na China, na esperança de que a liderança chinesa não conseguiria lidar com esta epidemia e que o caos surgiria na China. No entanto, a epidemia revelou a baixa eficácia do sistema de saúde nos EUA e criou o caos nos próprios Estados Unidos. Também nisso, o sistema chinês de gerenciamento mostrou uma eficácia muito maior. A taxa de mortalidade na China é significativamente mais baixa do que nos EUA e eles lidaram muito mais rapidamente com a pandemia. Já em 2020, eles chegaram a alcançar um crescimento econômico de 2%, enquanto nos EUA houve um declínio de 10% do PIB (os analistas notam que foi a maior queda desde a Segunda Guerra Mundial). Agora os chineses retomaram taxas de crescimento de cerca de 7% ao ano e não há dúvidas que a China continuará a desenvolver-se com confiança, expandindo a produção de um novo modo tecnológico.Paralelamente à guerra comercial com a China, os serviços especiais dos EUA estavam preparando uma guerra contra a Rússia, já que a tradição geopolítica anglo-saxã considera o nosso país [a Rússia] como o principal obstáculo ao estabelecimento da dominação mundial pelo poder e a elite financeira dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.
Devo dizer que a guerra contra a Federação Russa se desdobrou imediatamente após a anexação da Criméia e depois que os serviços especiais estadunidens
es organizaram um golpe de estado na Ucrânia. Pode-se dizer que eles [os EUA] enganaram a Rússia, fazendo-a concordar com a ocupação da Ucrânia pelos EUA, considerando-a como se fosse um fenômeno temporário. No entanto, os EUA criaram raízes na Praça Maidan; eles não só criaram pontos fortes – nutrindo nazistas sob as suas asas – mas também treinaram as forças armadas nazistas, deram aos nazistas a oportunidade de adquirirem uma educação militar, os treinaram nas suas academias e “polvilharam” as forças armadas da Ucrânia com eles. Durante oito anos, eles [os EUA] prepararam as forças armadas ucranianas para lutar contra o único inimigo: a Rússia.
Ao mesmo tempo, as mídias de massa – as quais também são completamente controladas pelos estadunidenses na Ucrânia – formaram uma imagem do inimigo na consciência do público.